Numa festa animada, as pessoas se encontram e
a alegria se multiplica. No tempo de Jesus, a festa de casamento tinha grande
valor. As famílias se uniam e renovavam suas esperanças na continuidade da
vida. Recordava-se a aliança de Deus com seu povo (Is 62,5; Os 2,21-22). O
vinho evocava o fascínio do amor humano (Ct 4,10) e o novo tempo do Messias.
O evangelista escolhe as Bodas na cidadezinha
de Caná para contar sobre o primeiro sinal de Jesus (Jo 2,1-12). Maria chega
antes. Jesus e seus discípulos vieram também. Então, o vinho está terminando, a
festa pode acabar! Maria faz um pedido discreto. Jesus responde: “O que nós
temos a ver com isso, mulher? A minha hora ainda não chegou (Jo 2,4). O título
“mulher” não é um desrespeito à sua mãe. Os profetas recorriam à imagem da
mulher para representar a comunidade que responde ao convite amoroso de Deus.
Jesus chama deste jeito à samaritana (Jo 4,21), anunciadora do Messias para os
não-judeus (Jo 4,28.41s). E à Madalena (Jo 20,15), primeira testemunha da
ressurreição (Jo 20,17s). Assim, a mãe de Jesus é mulher e figura do povo de
Deus fiel.
Parece que Jesus não quer se envolver com o
problema. Maria não discute com ele. Rapidinho, encontra uma solução. Volta-se
para os serventes: “Façam tudo o que ele disser a vocês” (Jo 2,5). Essas
palavras têm grande força simbólica. Segundo João, Maria não só realiza a
vontade de Deus na sua vida, como também orienta os outros a fazerem o que
Jesus lhes pede. Torna-se assim a mestra e guia dos cristãos. Ela continua dizendo-nos
hoje: “vale a pena buscar a vontade de Jesus, ouvir suas palavras e tomar
atitudes concretas”. O documento da Puebla afirma que Maria é “pedagoga da fé”.
Ela aponta para Jesus, leva-nos a ele, como fez com os que serviam na festa.
Os cristãos descobrem neste texto outras
atitudes dela. Maria está atenta às necessidades humanas. Capta com grande
sensibilidade um apelo que vem da realidade. Além disso, intercede junto a
Jesus, para o bem de todos. Essa postura, que começa em Caná, continua hoje, pois
ela é nossa intercessora, na comunhão dos Santos.
Jesus é o vinho novo e o esposo da festa da
nova aliança de Deus com a humanidade. Começou o tempo da graça! Quem está com
Jesus está com as vasilhas até a borda (2,7), transbordando de alegria. O Sinal
de Caná abre caminho para a aventura da fé, pois a partir daí “seus discípulos
creram nele” (2,11). A festa se conclui com o gesto de união, que reúne Maria,
os discípulos, Jesus e seus familiares (2,12).
Que Maria de Caná desperte abra nosso coração
para fazer o que Jesus disser; e saborear a alegria do vinho novo, da festa da
aliança e da fraternidade.
Ir. Afonso Murad
F.M.S. - Fratres
Maristae a Scholis
Texto extraído da Revista do Mensageiro do Coração de
Jesus
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