No Evangelho de hoje, o Senhor Jesus, depois
de ter chamado e enviado em missão os seus discípulos, vai instrui-los e
prepará-los para enfrentar as provações e as perseguições que deverão
encontrar. Partir em missão não é fazer turismo, e Jesus admoesta os seus:
“Encontrareis perseguições”. Assim os exorta: "Não temais os homens,
porque nada há de escondido que não venha à luz […]. O que vos digo na
escuridão, dizei-o às claras. […] E não temais aqueles que matam o corpo, mas
não podem matar a alma" (vv. 26-28). Podem matar o corpo, não podem matar
a alma: não os temais. O envio em missão por parte de Jesus não garante aos
discípulos o sucesso, assim como não os exime das falências nem dos
sofrimentos. Eles devem ter em conta quer a possibilidade da rejeição, quer a
da perseguição. Isto assusta um pouco, mas é a verdade.
O discípulo é chamado a conformar a própria
vida a Cristo, que foi perseguido pelos homens, experimentou a rejeição, o
abandono e a morte na cruz. Não há missão cristã sob o signo da tranquilidade!
As dificuldades e as atribulações fazem parte da obra de evangelização, e somos
chamados a encontrar nelas uma oportunidade de verificar a autenticidade da
nossa fé e do nosso relacionamento com Jesus. Devemos considerar essas
dificuldades como possibilidade para ser ainda mais missionários e crescer
naquela confiança em Deus, nosso Pai, que não abandona os seus filhos na hora
da tempestade. Em meio às dificuldades do testemunho cristão no mundo, nunca
somos esquecidos, mas sempre assistidos pela solicitude amorosa do Pai.
Portanto, no Evangelho de hoje, por três vezes Jesus tranquiliza os discípulos
dizendo: "Não temais".
Ainda hoje, irmãos e irmãs, a perseguição
contra os cristãos está presente. Nós oramos pelos nossos irmãos e irmãs que
são perseguidos, e louvamos a Deus porque, apesar disto, continuam a
testemunhar com coragem e fidelidade à sua fé. O seu exemplo ajuda-nos a não hesitar
em tomar uma posição a favor de Cristo, dando corajosamente testemunho dele nas
situações do dia a dia, mesmo em contextos aparentemente tranquilos. Na
verdade, uma forma de prova pode ser também a ausência de hostilidade e de
tribulações. Assim como "ovelhas no meio de lobos", o Senhor,
inclusive no nosso tempo, envia-nos como sentinelas entre as pessoas que não
querem ser despertadas do torpor mundano, que ignoram as palavras de Verdade do
Evangelho, construindo para si as próprias verdades efémeras. E se formos ou
vivermos nestes contextos, e dissermos as Palavras do Evangelho, isto
incomodará e seremos malvistos.
Mas em tudo isto o Senhor continua a
dizer-nos, como dizia aos discípulos do seu tempo: "Não tenhais
medo!". Não esqueçamos esta palavra: perante qualquer tribulação, qualquer
perseguição, algo que nos faz sofrer, escutemos sempre a voz de Jesus no
coração: "Não temais! Não tenhas medo, vai em frente! Estou
contigo!". Não tenhais medo de quem vos ridiculariza e maltrata, e não temais
quem vos ignora ou vos honra “na vossa frente”, mas "pelas costas"
luta contra o Evangelho. Há muitos que diante de nós fazem sorrisos, mas por
detrás combatem o Evangelho. Todos os conhecemos. Jesus não nos deixa sozinhos,
porque somos preciosos para Ele. Por isso não nos deixa sozinhos: cada um de
nós é precioso para Jesus, e Ele acompanha-nos. A Virgem Maria, modelo de
adesão humilde e corajosa à Palavra de Deus, nos ajude a compreender que no
testemunho da fé não contam os sucessos, mas a fidelidade, a fidelidade a
Cristo, reconhecendo em todas as circunstâncias, mesmo nas mais problemáticas,
o dom inestimável de ser seus discípulos e missionários.
Papa Francisco, Angelus, 25/06/2017
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